Uma carta de 17/06/2025

Meu querido eu do futuro,

Isso é um desabafo.

Tem dois anos que vivo uma vida solitária, longe de casa, num país estranho, numa cidade pequena. Fiz poucos amigos, trabalho muito e recebo pouco. Não conquistei nada físico. Fiz algumas viagens pequenas, gastei muito, não juntei dinheiro. Sigo aqui mesmo que não faça sentido eu estar aqui.

Agora trabalho em um resort. Recebi a proposta de trabalhar como massagista, fazer um curso onde, durante seis meses, eu pagaria 100 euros por mês. Fiz três cursos: massagem sueca, descontraturante e esportiva. No mês passado, trabalhei demais. Ajudei no bar e no restaurante. Eu que faço a limpeza do spa, além de ser a massagista. Ganho 900 euros, já descontando os 100 do curso. Sinto que tô sendo idiota. Que estou me iludindo pensando que tudo isso faz parte do processo. Que, para as coisas melhorarem, eu preciso passar por isso.

Mas… e se eu estiver errada?

E se eu estiver perdendo meu tempo aqui?

Era pra eu já ter me mudado pra um lugar onde eu realmente ganhe dinheiro, faça amigos, tenha mais oportunidades. Mas… oportunidades em quê? Eu não sabia o que eu queria antes desse emprego atual. A massagem tem se mostrado uma coisa que talvez eu realmente goste de fazer, que talvez eu queira continuar me especializando. Mas e se for mais uma vez um engano? Mais uma vez eu estaria desesperada, agarrando qualquer coisa na minha frente pra fingir que é meu propósito de vida?

E a geologia? Eu tenho diploma, mas não quero, não consigo continuar nela.

Eu tô sendo burra por isso?

Eu sinto que não faz parte do meu destino ter alguém do meu lado. Eu não nasci pra entrar no modelo de mulher que casa. Não falo isso com orgulho, é só que... eu sou muito melancólica. Introvertida e extrovertida ao mesmo tempo. Quero fazer tudo, mas sem explicar o porquê — porque nem eu sei. Quero ser tudo, mas também não quero ser nada. Não quero fazer alguém tentar entender minha mente quebrada. E também não quero esconder os cacos para me encaixar em um relacionamento.

Eu não sei o que estou fazendo com a minha vida. Estou perdida. Sinto que nunca estive realmente aqui. Todas as escolhas e ações que eu tomo parecem só um meio desesperado de encontrar alguma coisa pra me fixar nessa vida. Pra estar realmente presente. Pra fazer o que tem que ser feito.

Mas é tudo tão sem sentido pra mim.

Eu saí correndo do Brasil, me joguei numa terra desconhecida sozinha, numa tentativa desesperada de me encontrar, de me curar, de tirar essa angústia e esse vazio de dentro de mim.

Eu não sei mais.