Uma carta de 14/12/2024

Oi Roberta,

Quem te escreve é você mesma, com 30 anos. Você não vai se lembrar disso, pois sua memória tem se esvaindo a cada dia, com a ansiedade e estresse que seu trabalho tem te causado.

Enquanto escrevo essa carta chorando, (eu) você, se sente sozinha, apesar de ter um companheiro, você queria estar mais próxima da sua família e ter encontros com amigas para desabafar, pois às vezes ele não tem paciência ou acha que suas reclamações sobre trabalho e a forma como ele te trata, são "drama". É, talvez você faça um pouco de drama sim, mas ficar em um apartamento a semana inteira sem nenhuma interação social e no final de semana também, não está te fazendo bem e você sabe disso.

Bom, espero que daqui 10 anos você tenha conseguido mudar essa situação e que esteja feliz. Que você esteja em um local que as pessoas te valorizem e não te critiquem por ter opinião (e isso não é só sobre trabalho). Aqui com 30 anos, eu começo a me preocupar sobre ter filhos, mas não consigo me enxergar com um filho, não me sinto preparada para enfrentar tudo e fico preocupada em criar uma criança enclausurada, pois é assim como me sinto socada dentro do apartamento. Espero que quando você ler essa carta, isso tenha passado.

Fiquei pensando no que te falar na carta, parece que estou sendo ingrata com a vida, não quero que você pense isso. Eu, ganho bem no trabalho, tenho uma vida confortável, consigo pagar um aluguel(caro) e bancar meus Ifoods todo dia.

Espero que você esteja mais cheia de si, sem tanta preocupação com a opinião dos outros, que faça mais coisas que você quer, que esteja cercada por pessoas queridas e que gostam de você.

Quero falar sobre a Lili também, estou preocupada com ela, os rins já começaram a dar os sinais da velhice. Eu queria que ela vivesse para sempre mas sei que é uma questão de tempo pois hj ela tá com 16 anos. Lembre dela com muito carinho, assim como você não deve esquecer do Beethoven.

Espero também que Deus não tenha levado ninguém da sua família. Hoje sua avó Lourdes está morando com seus pais e ainda não está com sinais mais graves do Alzheimer, mas tem começado a ficar mais temperamental com sua mãe. Eu me preocupo pois minha mãe gosta de controlar e a vó não está aceitando muito as coisas que ela fala e as duas ficam brigando. Já falei que meu pai que precisa tomar a frente, pois a mãe é dele, mas minha mãe não dá conta, vejo ela tratando minha avó como quando eu era criança.

Meu relacionamento com a minha mãe está ótimo, ela mudou completamente comigo, está mais paciente, mais compreensiva e às vezes eu que passo um pouco do limite com ela, mas tenho tentado melhorar com isso.

Ah, meu pai parou de fumar, foi uma vitória! Estou muito orgulhosa dele, acho que ele tá esperando os netos, e eu fico triste de não poder dar isso a eles agora. Espero que quando você ler essa carta talvez isso tenha mudado. Mas não se cobre se não tiver conseguido ter filhos.

Eu fico tentando imaginar como estarei daqui 10 anos, mas não consigo, eu só espero que você esteja feliz. De verdade.

Você é forte (mais do que pensa), você é inteligente, você é carinhosa, você é especial (não deixe que ninguém te faça pensar o contrário).

Eu te amo.

Sinta-se abraçada pela sua versão de 30, mas também a de 20, a de 15, todas elas estão aí e moldaram quem você é hoje.

Com carinho,

Beta.