Uma carta de 11/02/2025
Meu querido eu do futE aí,
Eu nunca sei exatamente como iniciar uma carta para mim mesma, porque, afinal, estou falando comigo e, talvez (muito provavelmente), eu me ache ridícula por isso.
No momento em que escrevo, ainda não decidi se quero receber esta carta em 6 meses, 1 ano, 3 anos ou 10 anos. Mas há algumas coisas que lembro de ter escrito na minha última carta e das quais gostaria de me redimir—talvez comigo mesma, talvez com os outros.
Enfim… 20 anos recém-completos. A vida agora é um caos, um excesso de informações e acontecimentos que chegam sem aviso. Me sinto perdida. A vida soa mais como um rádio desintonizado—muitas vozes ao mesmo tempo, mas nenhum sentido claro. Eu não sei para onde ir (ou talvez até saiba, mas o caminho é enevoado). Nada faz sentido do lado de cá. E, sinceramente? Acho que a adolescência foi mais simples do que ser um jovem adulto. Nada é simples agora. Tudo é complexo e cansativo demais. Aos poucos, me vejo desesperada, como se não houvesse saída.
Fisicamente, estou exausta (será que estou doente?). Minha mente já não é tão boa quanto um dia foi. Nada parece ter solução. O tempo passa rápido demais e muita coisa acontece ao mesmo tempo. Queria poder sentar no topo de uma montanha e observar a vida em câmera lenta—quem sabe assim eu conseguisse me acalmar um pouco. Eu não sei o que quero (se é que eu quero algo).
A vida tem parecido uma torneira aberta sem controle. A água corre sem pausa, escorrendo pelo ralo. Cada gota que cai é um momento que se vai, rápido demais para ser aproveitado, desperdiçado na pressa do fluxo constante. Só consigo assistir a água descer, sentindo que algo valioso está sempre escapando.
Em 6 meses, será agosto.
Em 10 meses, será dezembro.
Em 1 ano, será 11 de fevereiro de 2026.
Para quando eu vou enviar? Só vou saber no final desta carta. Ainda assim, será uma eu do futuro.
Lembra que eu falei que tudo soa diferente agora? É porque tudo soa absurdamente diferente mesmo, e eu não sei o que fazer!!!!!!!!!!!!!! Será que apenas sigo o fluxo do rio ou nado contra a maré?
Procuro algum conforto no passado para me acalentar no presente.
Amo e odeio tudo.
Quero sumir e estar presente.
Não quero falar sobre assuntos difíceis, mas também não quero sufocar em sentimentos incompreendidos.
Não quero ir, mas também não quero ficar.
Não quero dormir e nem ficar acordada.
Não quero comer, mas não quero sentir fome.
Meu avô faleceu recentemente, e toda aquela rotina estruturada e adaptada que me acompanhou por meses já não existe mais. Isso reflete as mudanças da vida—tudo vai sumindo aos poucos, até que não existe mais. Tenho memórias muito claras de junho de 2023 até agosto de 2024. Não vou mentir, eu sinto falta daquela época, de quem eu era, de como eu era, das experiências (até certo ponto). Queria voltar atrás e fazer algumas coisas diferentes.
Não sei por quê, mas recentemente me peguei pensando muito no meu antigo namoro. Talvez eu sinta falta dos lugares, do luxo que já não tenho mais, e isso me faz sentir tão complexada e mal em relação ao momento atual que é até difícil colocar em palavras. Talvez seja doloroso demais para mim e injusto para o Vinícius. Mas acho que foi melhor assim… (Será?) Não quero dizer nada com isso, só que as coisas poderiam ter sido menos sofridas, menos difíceis.
Meu irmão em breve vai se casar e sair de casa. Tipo… uau. Cinco anos passaram correndo. As coisas se tornaram estranhas e, o tempo inteiro, caminham em direção a um limbo de estranheza.
Não sei se esse sofrimento todo é parte de algum desenvolvimento cognitivo da vida, mas, junto dele, tenho aprendido e entendido muitas coisas sobre mim e sobre o mundo.
Sinto medo. Não confio em mim mesma para tocar a minha vida. Se eu não mudar agora, lá na frente tudo estará horrível, e, sinceramente, parece que já estou direcionada a isso.
Olha, eu não lembro mais o que escrevi nas cartas anteriores, nem o que sentia enquanto escrevia. Mas que fique BEM CLARO: eu me sinto extremamente aflita, nervosa e assustada, porque só agora está caindo a ficha da DOIDEIRA QUE É ESTAR VIVO. Só agora percebi que saí dos TEENs e entrei nos TWENTIES. Saí de uma sequência de números que começou quando eu ainda era criança, para entrar em uma que já inicia na vida adulta. E minha infância? Nunca mais vai estar perto de mim. Ela caminha, a cada dia, para mais longe. As únicas crianças e adolescentes que existem a partir de agora serão futuros filhos ou sobrinhos.
Eu estou DESESPERADA. VIVER É MUITO DIFÍCIL.
A vida adulta exige tanta coisa… Quero voltar para o útero da minha mãe.
2025, aparentemente, é um ano que veio para barbarizar, viu, gata? Sinto medo. Apenas isso.
Tenho metas, desejos, vontades, angústias—para este ano e para o resto da vida. Espero ter sobrevivido e que esta carta me encontre novamente (e bem), mesmo eu sentindo que nunca escrevo o suficiente.
E, caso alguém a encontre: não me leve a mal. Só eu consigo me entender, e você não tem nada a ver com isso e comigo.
Sobre o meu namoro… talvez o que vou dizer agora seja um pouco duro e insensível. Talvez eu me arrependa quando reler isso. Talvez eu me sinta uma pessoa horrível... ou não.
Eu tento não pensar demais, mas sinto como se nunca deveríamos ter começado. Porque, no fim das contas, não faz o menor sentido. Ele era só um estranho do Tinder e, agora, vem até a minha casa e deita na minha cama. Sim, ok, eu admito—ele é um namorado incrível, está sempre mudando para ser melhor para mim. Mas eu não sei se isso é certo. Não sei se realmente somos compatíveis. Tenho medo de viver uma vida infeliz porque não fiz ou fui quem eu queria ser. Porque não estive onde queria estar. Mas, ao mesmo tempo, também não consigo ver minha vida sem ele.
Tenho essa sensação porque, no início, eu não gostei dele e, conforme conversávamos, tinha ainda mais certeza disso. Mas, hoje em dia, ele se mostra extremamente adaptável e amável—com tudo e comigo. Até o momento desta carta, já teremos completado um ano, se tudo der certo (ou não).
Estou extremamente aflita… Só não quero que um dia seja tarde demais.
Enfim, hoje eu fico por aqui.
E minha "eu" do futuro que é a do passado vai enviar essa carta pro dia 31/12/2025uro