Uma carta de 04/10/2025
Oi, Ana,
Hoje é dia 04 de outubro de 2025. Quando você receber esta carta, vai estar quase completando 34 anos. Uau, será que vamos conseguir chegar até lá?
Eu acabei de receber a carta que escrevemos durante o intercâmbio, três anos atrás e… Não cumpri exatamente todas as metas que desejei nela, como morar sozinha. Porém, depois de três anos, três empregos, um namoro e muitas indiretas no twitter e status do whatsapp, a Dimítria e eu voltamos a conversar. Ela quem mandou a primeira mensagem. Acho que, por ter ficado tão machucada, me recusei a tomar essa atitude. Tenho boas notícias que aconteceram no último mês. Sobre a Dimi, o que a gente tanto imaginou ouvindo evermore na van voltando da faculdade em julho de 2022 aconteceu: estamos recomeçando praticamente do zero. Acho que nas primeiras semanas houve um certo estranhamento, normal, especialmente da minha parte, já que decidimos reconstruir nossa amizade antes de qualquer outra coisa. Fiquei agoniada com medo de entrarmos numa friendzone quando, no fundo, eu queria muito voltar com ela. Digo, eu a amo desde 2019. E, seis anos depois, ainda sinto borboletas por ela e meu coração falta sair pela boca quando ela me toca. Após ter sofrido por anos e anos pelo término e ainda ter todo esse amor aqui, só posso concluir que ela é o amor da minha vida. Não sei como vão estar as coisas aí com você. Se vai concordar comigo ou não, mas é como vejo e me sinto agora. Outra boa notícia é que consegui um emprego numa empresa internacional!!!! E como se não fosse suficiente, uma real estate de alto padrão, então posso trabalhar com o que amo!!!! Tô me sentindo como quando consegui o emprego na Uptime, como se estivesse no caminho certo, sabe? Antes mesmo de receber a notícia de que tinha passado, eu já sentia que a vaga era minha. Você sabe, essas coisas que a gente sente desde sempre. Isso me deu muita esperança, uma que acredito que a última vez que senti foi quando passamos no intercâmbio. Eu vinha me sentindo extremamente pessimista, porque… Como você sabe, melhor do que ninguém, sofremos muito com a homofobia dos nossos pais e irmã. Durante a pandemia, depois, e agora de novo que a Letícia começou a namorar com o João e ele está praticamente morando na casa dos nossos pais, sendo que eu nunca pude sequer levar uma namorada lá. Conversei com a mamãe diversas vezes e com a Letícia também sobre o quanto tudo isso me machuca. Sobre as tentativas de suicídio, sobre eu beber água sanitária quando voltava da igreja como forma de me limpar e sobre como eles não terem mudado de opinião em 5 anos me faz sentir do mesmo jeito. Como não me sinto bem vinda lá, porque tenho que fingir o tempo todo ser uma coisa que não sou. A reação delas e do meu pai foi a mesma de 5 anos atrás. Ignorar. Diminuir. Não aceitar que me machucam. Muito pelo contrário, a mamãe chegou a dizer que preferiria me ver clm um homem alcoólatra que me trai do que com uma mulher com a vida estabilizada. E que tudo que eu tenho passado é mera consequência da minha escolha. É. É. Eu não estava bem no começo do ano, acho que ano passado também contribui muito pra isso, minha experiência na Katz foi tenebrosa e, agora morando com a tia Doca, ela deixa claro em diversos momentos que não tem muito gosto de me ter aqui. Mas não tenho escolha, não tenho pra onde ir. Por isso a aflição, as ideações suicidas, voltaram esse ano, pela falta de expectativa pro nosso futuro, por não ter perspectiva de quando eu poderia comprar um apartamento ou lugar meu. Porém, agora com nosso emprego, tudo isso mudou. Fico com um leve medo de não dar conta, de não ser boa o suficiente e ser demitida, mas vou dar o meu melhor pra conseguir juntar o dinheiro suficiente pra comprar nosso lugar. Eu espero muito que você esteja lendo isso no nosso quarto, na nossa casa, no nosso lar. Que, daqui uns minutos, vá pra cozinha fazer algo bem gostoso. E que você saiba que, só de ter chegado até aí, me orgulho de você. Por ter sobrevivido 2013-2015, e 2020-2025. Vai ficar tudo bem. Vai dar tudo certo.