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Uma carta de 03/01/2025

3 de janeiro de 2025 31 de dezembro de 2025
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Itaguaí, 31 de dezembro de 2024


Oi Heloisa do futuro, senta, que lá vem história!


Aqui é o relato da minha versão que chegou no fundo do poço. Que exagero? Não mesmo. Só me falta estar em uma cama de hospital sem consciência. Por que correndo risco de vida eu já estou. A Heloísa que escreve essa carta hoje, não consegue andar por cinco minutos sem precisar sentar. Essa Heloisa, também não consegue limpar sua própria bunda ao fazer coco. A lista só cresce. E hoje, me olho no espelho e não me reconheço. Não bastassem os peitos caídos desde os 17, agora tenho uma barriga pra fazer companhia. Grande. Caída. Flácida. A causa de tantas dores e tantas renuncias. Não consigo ir a um estabelecimento e me sentir segura sem ter que calcular se a cadeira vai suportar meu peso. Já dominei a habilidade de sentar só na ponta para o estrago ser menor. E sinceramente, mas do que nunca, eu cansei de ser essa pessoa. Essa pessoa disfuncional que engoliu a menininha que eu era. Lembra que o plano era ficarmos bem? Exatamente. Renato russo te relembra o propósito de tudo, e se em um devaneio eu pudesse acrescentar “lembra que o plano era ser livre?” Logo eu, ansiava tanto por liberdade. E o algoz só trocou de endereço e agora mora dentro de mim. O excesso de peso tirou minha liberdade. Quantas vezes nesse ano pedi ou terceirizei coisas que eu mesma gostaria de ter feito? Quantas escolhas deixei na mão de outros por muita das vezes querer evitar a fadiga? Isso é liberdade? Essa Heloísa, que escreve agora só anseia por liberdade, a alma grita e se despedaça para depois se reerguer. Me permito ser ruína. E renascer, relembrando os princípios e os verdadeiros valores que costumava ter. Obesidade não é um sentimento. Obesidade é uma cruz a ser carregada. Estou quase arriando. As forças estão por um fio. Hoje, sou a Heloísa que só vai aos lugares de Uber, a Heloísa que o g3 já está pequeno. A Heloísa que não pratica mais sexo com o próprio marido, parecendo dois irmãos. Sem nenhuma intimidade sexual.

Você é capaz menina. E 2025 é o seu ano. Se prometa: OUVIRÃO FALAR DE MIM. Ah, mas vão. E como vão. Estou no meu limite, e prometo não arrebentar a corda, vou usar ela para pular e gastar calorias. Eu sei que essa carta irá ser lida com muitas risadas e também muito orgulho, quando eu ler essa carta, saberei que consegui. Pois não tenho outra escolha. É mais que uma decisão, é um ultimato.


Com amor e muito pesar pelo presente deplorável,


Heloisa de 2024.

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