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Uma carta de 19/06/2025

19 de junho de 2025 19 de junho de 2035
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404 palavras

Eu sou o orgulho da família, mas só porque eu subi um degrau a mais. Eu tenho tratamento de cristal, mas só porque todo mundo está quebrado. Eu venho tentando juntar cacos que não são meus para curar mágoas que eu não causei. E as rachaduras nas paredes não estão ficando menores, o sangue que escorre não é meu, mas minhas mãos estão manchadas, já faz anos que as limpo e por mais muitos anos ainda estarei limpando, tentando quebrar uma corrente feita de esperanças mais fortes do que todos nós juntos. Eu luto para ter uma sacada na minha casa, para que haja silêncio de manhã e minhas contas estejam pagas no final do mês. Eu luto por um pote de sorvete no congelador, por água quente na torneira e armários embutidos nas paredes. Para que eu possa dar jantares com queijo brié e vinho seco e pão italiano fresco, para que haja um piano na minha sala e uma lareira da qual eu não preciso no centro do meu país tropical. Para que haja um sol para olhar, amanhecer com a luz dele entrando por janelas grandes e um sacada aconchegante, por um sofá largo, por cadeiras confortáveis e que sejam do conjunto da mesa e não de plástico trincado de sol. E que haja estantes onde eu possa guardar meus livros chiques de Psicologia e meus clássicos antiquados; uma parede com quadros para decorar e fotografias para penduras junto do meu diploma que tanta gente que eu amo valoriza, paredes sem mofo, nem infiltrações ou manchas; e para que haja um cantinho onde eu possa montar uma bela árvore de Natal no final do ano, uma com enfeites novos e que não se incline para a direita. E que quando eu receber meus amigos, eu tenha uma cristaleira de onde eu possa retirar taças de cristal e louça de prata; que eu possa oferecer fartura e um várias opções de lugares onde eles possam dormir. Que um dia eu possa olhar para esse texto e pensar que consegui. E que você aí do futuro esteja chorando, porque eu aqui no passado sou tão boba, sou tão tola, porque como eu pude pensar por um momento sequer que poderíamos não conseguir?

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