Tempo percorrido - em 15 anos

Uma carta de 01/09/2025

2 de setembro de 2025 2 de junho de 2041
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1074 palavras

Exterogestação (substantivo feminino)


1- Processo pelo qual os primeiros meses de vida do recém-nascido, fora do útero, são considerados uma extensão da gestação, como se a “gestação” continuasse externamente.

2- Também chamado de “quarto trimestre”. Engloba o período de adaptação do bebê ao mundo extrauterino, geralmente os primeiros três meses de vida, quando o desenvolvimento neurológico, motor e emocional ainda é imaturo.

3- Criado pelo antropólogo Ashley Montagu, que observou que os humanos nascem relativamente imaturos comparados a outros mamíferos, defendendo a continuidade do desenvolvimento fora do útero.



Oi, minha filha linda.

Feliz aniversário, meu amor!


Hoje te escrevo do passado (não é a primeira e nem a última vez), com um amor e emoção que não consigo descrever de forma alguma.

São 22h03 da noite e, como uma mãe recém-parida, eu deveria estar lhe acompanhando em um sono profundo, mas minha mente ainda não amoleceu o suficiente. Continuo pensando: "Meu Deus, não é possível que sou mãe e que amanhã (02/09/2025) o meu bebê completa três meses de vida".

Estou grata, muito grata por ser sua mãe. Grata porque minha oração foi atendida e veio você. Grata porque minha súplica no leito do hospital foi atendida e recebi uma segunda chance de ser sua mãe. Grata porque você é saudável, linda, muito esperta, inteligente (um bebê gênio) e divertida (apesar de chorona. Você ainda continua chorona? Se sim, não tem problema. Bem-vinda ao clube extraordinário de jovens — ops, acho que em 2041 não serei mais tão jovem — choronas).

A essa altura, se você for uma boa leitora (alô, tia Karol), você deve estar se perguntando: "Mas por que raios minha mãe começou essa carta com a definição de exterogestação?"

Bom, porque esse ciclo se encerra hoje (em setembro/2025, não em junho de 2041) para nós duas.

Você nasceu no final da tarde de uma segunda-feira. Foi a segunda-feira mais extraordinária da minha história. Estava quase me borrando de medo. Eu queria me esconder do mundo e ficar ao menos mais 24 horas a sós com você dentro de mim. Sentia que não estava pronta pra te dividir com todos aqueles que já te amavam também. Queria te amar de forma exclusiva, integral, palpável e egoísta.

Ao mesmo tempo, queria berrar para o mundo que eu finalmente conheceria o amor da minha vida, a pessoa que eu sonhei por anos. Queria te levantar para os céus e fazer cada pessoa viva olhar para você, porque eu sabia (e agora comprovo) que eles veriam o Senhor refletido em seu rosto. Você poderia ser um acaso, poderia ser uma em 1 milhão de espermatozoides do seu querido pai, mas não. Você foi escolhida a dedo para o meu ventre. Ventre esse que te serviu de lar por 38 semanas quase certinhas.

Você saiu. Me avisaram que você sairia naquele segundo.

Eu vi o rosto do seu papai quando ele te viu pela primeira vez, então levantei ligeiramente o pescoço e me preparei para o nosso encontro. E que encontro! Eu nunca senti nada mais feroz, mais imenso, puro e selvagem como quando te vi pela primeira vez. Eu queria te pegar só pra mim.

Naquele momento, de forma instantânea, lembrei de Deus. Te ver me fez lembrar do nosso querido Jesus e em como Ele amou a humanidade. Com minha memória voltada para Cristo, jurei fazer por você o que Ele fez por mim: entregar a minha vida para você. Acho que essa é a minha maior missão e o meu ministério mais especial. Nunca foi dançar, nunca foi ensinar ou propagar a Palavra. Minha maior missão é você e nossa pequena família (ainda somos poucos ou ganhamos mais alguns integrantes?). Naquele momento, prometi para todo o céu e Terra que doaria com amor cada gotinha da minha existência a você.

Minha filha, com certeza, durante esses 16 anos, em algum momento eu errei com você. Peço desculpas. Também é a minha primeira vez no mundo, é a minha primeira vez te amando e é a minha primeira vez tentando ser adulta. Me desculpa mesmo. Eu sei que essas simples palavras talvez não façam sentido para você agora — ou talvez façam — mas o que eu quero dizer é que eu te amo.

Te amo, te amo e te amo. Esses três primeiros meses que passamos juntas, com você conhecendo o mundo através dos seus próprios sentidos, foram os meses mais desafiadores até agora. A privação de sono é uma arma de tortura reconhecida pela ONU, e cá estamos nós. Mas, todo santo dia, você compensa esses desafios. Comer com uma mão só enquanto faço "shiiiiiiiii" e te nino com a outra? Ficar sem dormir? Escolher abdicar de interesses pessoais por um bem maior? Tudo isso é compensado todo dia com o seu respirar.

Nesses três primeiros meses, eu fiz o meu melhor, mas sinto que poderia ter feito muito, muito, muito mais. Acontece que eu sempre vou desejar te proporcionar além.

Obrigada. Não sei pelo o quê exatamente te agradeço, mas agradeço do fundo do coração por tudo. Obrigada por me escolher. Obrigada por gostar do meu colo, do meu cheiro e do meu leite. Obrigada por me olhar e por devolver os meus sorrisos ao seu acordar. Obrigada por me amadurecer. Obrigada por me constranger de forma afetuosa também.

Eu sentirei saudades desses três primeiros meses em que tentei ser sua casa por mais um tempinho. Você tem crescido rápido demais (e que orgulho!).

Não sei mais o que dizer... As lágrimas começaram a cair com maior intensidade agora. A garganta tá com uma bolsa gigantesca enfiada nela que não desce por nada, e meu nariz começou a escorrer. Eu sei que poderia escrever mais 948 palavras para tentar descrever meus sentimentos, e ainda seria pouco. Me perdoa pela minha pobreza gramatical e pouco repertório de sinônimos e palavras afetuosas.

Seja feliz. Siga sempre o seu coração. Odeie o capitalismo. Ame a Cristo com todo o seu corpo e sua alma. Seja muito feliz, minha filha.

Te amo eternamente.

Com amor,

Sua mamãe.

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